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Cap. 232

Após mais uma espiada no relógio, Augustus pergunta a Cobra Traiçoeira: — Quem vai para a vigia agora, você ou eu?

O nativo se levanta e Tex agradece: — Até que enfim. Não aguentava mais ficar olhando para o nada lá fora. Só serviu para gelar meus olhos.

Cobra assume o posto e Tex tenta se aninhar em Sarah, que refuta a aproximação.

O sequestrador está cansado demais para insistir e sabe que os delegados não permitirão que ele vá muito longe com a moça, então, decide se encostar próximo à fogueira, mantendo a jovem Sarah a seu alcance e seu chapéu cobrindo parte do rosto para não saberem se seus olhos estão abertos ou fechados.

Com todos devidamente acomodados e incomodados, Augustus retoma a leitura.

“Nuvem Cinzenta é o nome do nativo. Ele nos conta a lenda de um povo que estava no Novo Mundo antes mesmo da chegada dos primeiros povos indígenas.

Era um povo forte e guerreiro que reinava sobre todo o território. Como não tinham adversários, nunca se preocuparam em estabelecer um local fixo e fortificado para habitarem.

Viviam vagando por seus domínios, comendo o que caçavam e matando qualquer estrangeiro que surgisse. Nenhum ser vivo os desafiava e a tribo crescia e ocupava cada vez mais territórios.

Seu destino, diziam, era dominar tudo em todas as terras.

Perguntei ao nativo por que não conseguiram atingir seu objetivo. Ele explicou que nenhum ser vivo era páreo para aquele povo, mas isso trouxe a soberba. Era um povo muito confiante. Acreditavam em sua força, seu poder e em nada mais. Isso incomodou aqueles que vivem acima e além.

Segundo a história contada pelo nativo, os deuses desta terra enviaram então um inimigo sem corpo para combater aquele povo orgulhoso e profano. Assim, chegou um longo inverno, que durou séculos e cobriu com gelo todas as florestas, rios, lagos e planícies.

Não havia mais água, nem plantas, nem animais. Só restou no mundo aquele povo orgulhoso, o gelo e, com o tempo, a fome.”
 

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